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7 Mentiras que a gente escuta sobre Empreendedorismo Criativo

  • Foto do escritor: juliaserrate
    juliaserrate
  • 17 de jan. de 2021
  • 9 min de leitura

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A gente sempre imagina coisas sobre o que a gente não conhece. E não há nada de errado nisso, contanto que isso não gere frustrações ou pré-conceitos e julgamentos.

Informação nunca é demais, especialmente se estamos sonhando com algo. Por isso, trouxe aqui nesse texto 7 mentiras que escutamos sobre empreendedorismo criativo, pra você que está cogitando empreender, pra você que não quer cometer gafes com os seus colegas empreendedores, pra você que já empreende e quer conferir se já ouviu algumas dessas mentiras, e pra mim mesma, porque toda vez que escrevo, penso em um texto que eu mesma gostaria de ler =)


1. Faça o que você ama e nunca mais precisará trabalhar


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Ao que tudo indica, essa frase foi dita pelo Confúcio, um sábio chinês que viveu uns 500 anos antes de Cristo. Considerando isso, acho que vale a pena dar uma olhada pra frase com carinho antes de simplesmente descartá-la como mentira.

Uma coisa que é certa é que quando estamos envolvidos com uma atividade que está trazendo satisfação, nós temos uma percepção de tempo menor. É a famosa sensação de que o tempo voou quando vivemos o tempo de qualidade, então se você está trabalhando como que você ama, são menores as ocasiões em que você vive aquele dia arrastado que parece que não acaba nunca.

Outra coisa a se considerar é que a satisfação no trabalho traz equilíbrio também para a vida pessoal, porque se você está feliz na vida profissional, são menores as necessidades de escape quando você sai do trabalho. Sabe quando dia após dia, você sai do trabalho irritado, e mesmo sem querer, acaba descontando no seu parceiro, nos seus filhos, ou sentindo necessidade de beber todos os dia para relaxar, ou abusando da comida, ou mesmo gerando alguma compulsão, como o consumismo. A nossa vida como um todo precisa estar equilibrada. Quando há uma descompensação em algum lado, isso acaba gerando descompensações em outras áreas da vida.

Por outro lado, não podemos esquecer que na vida não existe bônus sem ônus. Para trabalhar com o que você ama, para viver o seu sonho, você sempre vai ter algum preço a pagar. Cabe a você avaliar se o preço exigido pelo trabalho dos sonhos vale a pena, e criar a sua própria definição de sucesso e de satisfação profissional. Não é porque você ama o seu trabalho que você vai fazer exatamente o que você ama o tempo todo. Pelo contrário: como suporte para aquilo que amamos, precisamos fazer várias coisas que não amamos tanto assim, como dirigir, organizar planilha de contas, responder clientes, estudar assuntos que não domino, alimentar redes sociais, comprar material, etc.

Fico imaginando Confúcio dizendo essa frase “trabalhe com o que ama e nunca mais precisará trabalhar”. Confúcio se envolveu com política. Por mais sábio que ele fosse, com certeza ele vivia situações desagradáveis, convivia com pessoas difíceis, trabalhava até ficar cansado. Mas eu imagino que de alguma forma, ele chegou a um nível de sintonia tão grande com o seu trabalho como uma missão de vida, que isso simplesmente era o que ele era, e sendo assim, ele não se sentia trabalhando. Você já experimentou algo assim? Estar tão envolvido e entretido como o seu trabalho que, por um momento, esqueceu que estava trabalhando?


2. Se você trabalha por amor, não deveria cobrar pelo seu trabalho


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Parece mentira, mas em pleno século XXI a gente ainda escuta isso. Me pergunto se essas pessoas que pensam assim preferem contratar pessoas que só trabalham por obrigação, que estão ali contrariadas só porque precisam do seu dinheiro. Tenho certeza que não! A mesma pessoa que diz que quem trabalha por amor deveria trabalhar de graça é a pessoa que acha ruim quando recebe um produto ou serviço e percebe que foi feito com má vontade.

Vamos deixar uma coisa clara: Profissão é diferente de voluntariado.

Cresci em uma igreja evangélica e já presenciei várias rodinhas de discussão (tanto de pessoas da igreja quanto de pessoas de igreja nenhuma) se questionando se o pastor, o músico, o missionário deveriam receber um salário, afinal, o que eles fazem é um ministério, deveriam fazer por amor...

Se pergunte então:

- Quantas horas do dia essa pessoa precisa se dedicar para fazer o que faz?

- Essa pessoa precisa ter alguma preparação para fazer isso? Estudar, fazer cursos, ter alguma experiência...

- Essa pessoa tem contas para pagar? Se sim, é você que vai adotar essa pessoa pra ela trabalhar só por amor?

- Essa pessoa tem outros sonhos além de ser artista, pastor, músico ou missionário? Somos pessoas complexas. Ser artista é só um dos meus sonhos, mas eu também posso ter o sonho de ter uma casa própria, de conhecer Paris, de ajudar minha família, de colocar meus filhos em uma escola melhor. Sonhos tem preço. Ou será que só pessoas que batem ponto tem direito a ter esse tipo de sonho?

Com isso, eu não estou querendo justificar os abusos de boa vontade e de inocência que a gente sabe que existem quando o assunto é religião. O que estou querendo dizer é que é muito justo uma pessoa receber um pagamento por algo que ela se dedica a fazer, principalmente se isso é sua profissão, se a pessoa se dedica a isso em tempo integral.

Também não significa que eu não possa dar o meu trabalho, mas aí estamos falando de voluntariado, doação, caridade e presente. E isso se dá a necessitados, a uma causa pela qual eu me identifique, ou a uma pessoa que eu ame e que está fazendo aniversário ou vai casar... Mas essa motivação tem que partir de mim. Não faz nenhum sentido outra pessoa me dizer pra quem eu devo doar o meu trabalho ou pra quem eu devo dar o meu trabalho de presente.

Se você é necessitado ou faz parte de um trabalho social, e acha que o meu trabalho pode abençoar pessoas de alguma forma, terei prazer em ajudar. Mas se você não precisa de caridade, não faz sentido me pedir pra trabalhar de graça pra você.


3. Artista só cria quando está inspirado


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O artista, ou qualquer pessoa que precisa se inspirar para trabalhar, deve criar a condição para se inspirar, em vez de esperar ver um arco-íris no céu para se sentir inspirado.

Aqui estão algumas sugestões de coisas que eu faço para me inspirar:

- Me alimentar sempre de referências, conhecer o trabalho de novos artistas, não só da minha área, mas de áreas diferentes, estudando movimentos artísticos da história da arte, etc.

- Crio um ambiente adequado. Eu sei que não é todo mundo que tem um espaço disponível para montar um ateliê, mas se você tiver um cantinho em potencial, por menor que seja, arrume esse cantinho do seu jeito, coloque seus materiais por perto, organize, para que seu cérebro entenda que aquele é o lugar de criar.

- Organizo uma rotina. Muita gente acha que a rotina prende, mas é exatamente o contrário. A rotina liberta e motiva. Se condicione a ter um horário para criar e se esforce para criar nesse horário. A satisfação de dever cumprido ao ver o que você criou quando esse horário acabar vai te dar motivação para repetir isso no dia seguinte. E o sentimento contrário também acontece quando você não se organiza. A frustração de ver que passou um dia inteiro e você não produziu te fazem iniciar o dia seguinte com uma vibe ruim. Organização te faz focar, focar te faz produzir, produzir te dá satisfação de dever cumprido e a satisfação te faz reiniciar o ciclo.

- Independente da vibe que você acordou, sente para trabalhar, pegue o lápis e o papel, comece a rabiscar qualquer coisa. Dê o primeiro passo, e você verá a mágica acontecer!

Ter uma ideia genial em um momento aleatório, quando você não está buscando inspiração intencionalmente e principalmente, quando você não está buscando referências constantemente, pode até acontecer, mas vai ser muito raro, um dqueles momentos de pura sorte. E quando você faz da criatividade a sua profissão, não dá pra contar só com a sorte.

Gosto muito de um escritor chamado Steven Pressfield, e em seu livro “A Guerra da Arte”, ele conta que muitas pessoas perguntam pra ele “Você só escreve quando está inspirado?”, ao que ele responde “Sim! Mas curiosamente, eu sempre estou inspirado de segunda à sexta, das 9 às 18h”. Esse mesmo escritor tem um jeito muito interessante de se referir à sua inspiração. Ele diz que toda manhã, ele se prepara para receber a visita das Musas de Homero (as Musas são seres da mitologia grega que inspiram escritores, poetas, guerreiros, etc). Para receber as suas Musas ele se arruma, arruma a sala, sacode o capacho, como se fosse receber a visita de alguém muito importante: a sua inspiração!

O vídeo abaixo é um mini-curso da Escola Nova Acrópole sobre o livro a Guerra da Arte do Steven Pressfield:


4. Artista de verdade não trabalha por encomenda, nem com prazos.

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Essa é pra quem vive no mundo magico de Nárnia! Mas ainda assim, é o pensamento de muita gente: que artista de verdade é aquele que cria algo da própria cabeça sem ninguém pedir ou dar nenhuma interferência e depois vende essa obra por milhões.

Claro que é importante pro artista ter uma produção própria, autoral, sem pressão e com o mínimo de interferência, porque são nessas criações que ele tem liberdade para criar sem medo, experimentar técnicas novas, deixar a criatividade brincar a vontade. E se esse artista for muito focado, produzir muito, correr atrás para por essas obras em exposições e museus, com muito esforço, boa sorte e boas influências, pode ser que ele consiga ficar muito rico vendendo arte.

Mas a realidade é que encomendas e prazos são realidade na vida do artista, e isso não significa que trabalhos incríveis não possam surgir nessas condições.

Para te convencer, eu trouxe dois exemplos:

O teto da Capela Cistina no Vaticano, pintada por Michelangelo, foi uma encomenda feita pelo Papa Julio II, por volta de 1500. No primeiro momento, Michelangelo não quis aceitar o trabalho, porque não gostava de pintura, e sim de escultura. Mas, não podendo negar um pedido do Papa, se dedicou ao trabalho para pintar praticamente sozinho um teto de mais de 500m2, com mais de 300 figuras.

Se você ainda não se convenceu, meu segundo exemplo é a Mona Lisa. Esse quadro foi uma encomenda de Francisco Giocondo a Leonardo da Vinci, para celebrar a recente maternidade de sua esposa, Lisa Gherardini.

Se Michelangelo e Leonardo da Vinci aceitavam encomenda, por que não eu?


5. Pra você é fácil porque você tem o dom / Isso que você faz é puro dom


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Eu acredito em dom, mas no sentido de interesse natural, e não de talento natural.

Me usando como exemplo, desde pequena, sempre me interessei por desenho. Gostava de observar, tentar copiar, me encantava vendo outras pessoas desenhando, ia na biblioteca procurar livros de desenho. Logo, por minha conta, comecei a treinar e estudar desenho, o que pra mim era muito prazeroso, e o fato de treinar e estudar me fez hoje uma boa desenhista.

O dom torna mais agradável pra mim treinar desenho do que para outras pessoas que não se interessam por desenho. Mas isso não significa que essas pessoas não possam aprender. Apenas significa que pra elas, provavelmente não vai ser tão prazeroso.

Eu acredito que todas as pessoas podem aprender absolutamente qualquer coisa, mas o que a gente não precisa, normalmente a gente só aprender por necessidade (ex: cozinhar, dirigir, fazer contas).

É raro uma pessoa ter necessidade de desenhar, ou de tocar algum instrumento, e por isso chamam de dom. Mas não chamam de dom quando uma criança aprende a ler com facilidade no momento da alfabetização. Ela tem que aprender de qualquer jeito! Talvez ela até tivesse mesmo o dom da leitura! Por que não?

E existe outra questão aqui. O fato de algo ser agradável para alguém estudar não elimina o esforço envolvido. São necessárias muitas horas de estudo, esforço, sacrifício, investimento de tempo e dinheiro! O dom é só o ponto de partida de uma jornada longa e árdua, mas prazerosa.

Citando o maior jogador de basquete do Brasil, Oscar Schmidt “Quanto mais eu treino, mais minha mão é santa. Não existe mão santa. Só existe treinamento. Sem treinamento, ninguém seria o que foi. Grandes jogadores têm coragem. Pequenos jogadores têm preguiça. Não acredito em talento, só em treino.” Assista aqui https://www.youtube.com/watch?v=A0y03U4jqqQ e aqui https://www.youtube.com/watch?v=-eE0mWAbh_4&t=978s .


6. Quem faz trabalho manual nem precisa ir ao psicólogo porque o trabalho já é uma terapia


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Vamos pensar nos problemas do dia a dia de um ser humano: incerteza, insegurança, desorganização, procrastinação, medo de assumir grandes responsabilidades, síndrome do impostor, problemas de relacionamento...... Será mesmo que pintar uma tela resolve isso?

É verdade que faz algo prazeroso nos ajuda a aliviar uma tensão ou a desanuviar as ideias quando estamos sobrecarregados, mas não é isso que vai resolver problemas profundos da alma. O trabalho manual é só um pontinho entre as muitas recomendações de tratamento prescritas por um profissional da saúde da mente (psicólogos e psiquiatras).

Fora que uma coisa é fazer trabalho manual para relaxar. Outra coisa é fazer para pagar conta, Ter o trabalho criativo como fonte de renda vai gerar responsabilidades e algumas situações desagradáveis que são naturais de qualquer trabalho, o que pode fazer com que o trabalho manual não seja tão terapêutico assim...


7. Deve ser um sonho trabalhar com o que ama!


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O que eu tenho pra dizer é que a gente vive simplesmente a vida real.

É maravilhoso fazer o que ama, mas não é um mar de rosas. Se é o que você realmente ama, você vai pagar o preço e receber a sua recompensa com brilho nos olhos!

Viver é melhor do que sonhar!

 
 
 

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Pura e simplesmente um compartilhar de experiências, que vez ou outra, podem ser úteis! XD

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